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E se Kim Jong-un apertar o botão?

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E se Kim Jong-un apertar o botão?:

Norte-coreanos em uma manifestação contra os Estados Unidos, em Nampo, na semana passada. O país subiu o tom das ameaças aos Estados Unidos e a Coreia do Sul  (Foto: REUTERS/KCNA)
Norte-coreanos em uma manifestação contra os Estados Unidos, em Nampo, na semana passada. O país subiu o tom das ameaças aos Estados Unidos e a Coreia do Sul (Foto: REUTERS/KCNA)

Ameaças da Coreia do Norte contra seus adversários não são novidade. Elas ocorrem, com maior ou menor frequência, desde o fim da guerra da Coreia, em 1953, quando China, Coreia do Norte e Estados Unidos firmaram um armistício e criaram uma zona desmilitarizada no Paralelo 38, que divide a península coreana entre o norte, comunista, e o sul, capitalista. Mas até mesmo para seus ferozes padrões retóricos, a Coreia do Norte passou dos limites na última semana. O líder supremo do país, Kim Jong-un, filho de Kim Jong-il e neto de Kim Il-sung e o mais novo representante da despótica dinastia Kim, declarou “estado de guerra” com a Coreia do Sul. Pior: prometeu um armagedom contra os Estados Unidos, com uma “chuva de mísseis” sobre território americano e bases militares no Havaí e na Ilha de Guam, no Pacífico.
Por se tratar de um país isolado, com pouquíssimo contato externo centrado num forte culto à personalidade do ditador e sem espaço para dissidência, toda vez que a Coreia do Norte ruge, a comunidade internacional se pergunta: eles vão apertar o botão? É pouco provável. “Kim Jong-un tem cara de louco, jeito de louco, mas sabe muito bem o que está fazendo”, afirma Victor Cha, professor de estudos estratégicos e de segurança para a Ásia da Universidade Georgetown. Segundo um estudo coordenado por Victor, desde 1992 a Coreia do Norte eleva o tom das ameaças em um prazo de 10 a 16 semanas depois da eleição de um novo governo na Coreia do Sul. No fim de dezembro do ano passado, Park Geun-hye se elegeu a primeira presidente mulher do país, pelo partido conservador Saenuri. “Kim Jong-un está seguindo a cartilha da sua família e testando o novo governo sul-coreano, ao mesmo tempo que dá uma demonstração de força para o seu Exército.”
Esse seria o rito de passagem de Kim Jong-un, no poder desde dezembro de 2011. Na ocasião, analistas ocidentais aventaram a hipótese de uma abertura do país. Kim estudou na Suíça, teve aulas de governança democrática, adora pizza e é fã do campeonato americano de basquete, a NBA. Para muitos, dali em diante o país poderia seguir o modelo chinês e abrir a economia, mantendo um regime político ditatorial. Tais rumores ecoaram na hierarquia militar norte-coreana. Agora, Kim Neto estaria tentando mostrar sua força para os caquéticos generais da velha-guarda.
Kim Jong-un e seu séquito observam exercicios militares perto da fronteira com a Coreia do Sul. Ninguém sabe quais as intenções do ditador (Foto: REUTERS/KCNA)Kim Jong-un e seu séquito observam exercicios militares perto da fronteira com a Coreia do Sul. Ninguém sabe quais as intenções do ditador (Foto: REUTERS/KCNA)
Esse processo de autoafirmação não parou desde fevereiro, quando o país realizou o terceiro teste nuclear de sua história. Em resposta, a ONU impôs mais sanções ao pais. A Coreia do Sul movimentou seu exército na fronteira e fez ensaios militares conjuntos com os Estados Unidos, que enviaram para a península seus bombardeiros capazes de carregar armas nucleares. Os norte-coreanos consideraram os exercícios militares uma afronta e afirmaram estar prontos para um ataque nuclear aos EUA.
Durante a Guerra Fria, o conceito de dissuasão nuclear garantia um “equilíbrio do terror” entre potências nucleares, baseado na racionalidade dos líderes. A ideia era a de que ninguém atacaria outro país com armas nucleares, para evitar um troco na mesma moeda. Caso a lógica do bateu, levou imperasse, estaria garantida “destruição mútua assegurada”, cuja sigla em inglês é "MAD", e forma a palavra "louco". Os líderes da Coreia do Norte constantemente desafiam os limites da racionalidade, então é impossível prever se o Norte de fato quer iniciar uma guerra de grandes proporções. O morde e a assopra norte coreano é tão delirante que, há duas semanas, o governo emitiu um documento oficial com teor de doutrina, se comprometendo a usar armas nucleares apenas se for atacado com o mesmo tipo de armamento. Também diz não atacar nações que não possuam armamentos atômicos, a não ser que elas se aliem a potências nucleares em uma ataque à Coreia do Norte.
O regime norte-coreano sabe que seria suicídio provocar um conflito com os americanos. Os EUA têm 4.650 armas nucleares em estoque, das quais cerca de 2.150 estão operacionais em mísseis e bombardeiros. Mas as ameaças de atingir território americano não passam de mais uma bravata. “Os norte-coreanos não tem uma ogiva nuclear pronta, nem combustível, nem mísseis capazes de viajar 10 mil quilômetros e atingir a costa dos EUA”, afirma Jonathan Pollack, do Brookings Institution, um dos maiores especialistas em península coreana.
Dados sobre as capacidades militares do Norte são pouco confiáveis. Não existem estimativas precisas de quantas armas nucleares o país teria, ou se seus foguetes tem alcance para atingir território americano (leia mais no quadro abaixo). O país mantém um enorme arsenal de mísseis balísticos, em sua maioria variantes dos modelos soviéticos Scud B e Scud C, obsoletos e cujo alcance não ultrapassa os 500 km. Aquele que seria o míssil mais poderoso, o Taepodong-2, só teve um teste até hoje, em 2006, e fracassou. As estimativas sobre seu alcance são imprecisas: os especialistas falam que poderia atingir alvos entre 4.000 km a 9.000 km de distância. Em um conflito armado, a única carta na manga das forças armadas norte coreanas seria o míssil Nodong 2, com capacidade para atingir a Ilha de Guam, no Pacífico, onde os Estados Unidos tem uma base militar. “Eles conseguiriam atingir uma cidade como Tóquio, mas jamais qualquer território dos Estados Unidos”, afirma Greg Thielmann, pesquisador da Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos.
O arsenal norte-coreano e a defesa americana (Foto: Fonte: Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos )Fonte: Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos


A maior dúvida é se a Coreia do Norte possui tecnologia avançada o suficiente para equipar esses mísseis. “É muito duvidoso que a Coreia do Norte consiga armar qualquer um de seus mísseis com ogivas nucleares”, diz Thielmann. Para construir uma arma nuclear, não basta apenas enriquecer metais radioativos como urânio ou polônio. É necessário encontrar meios para reduzir o tamanho da ogiva e encaixá-la no míssil, sem provocar sua explosão. Não se sabe se o país teria a tecnologia para produzir uma arma pequena o suficiente para ser instalada na ponta de um míssil.
A defesa contra um eventual ataque norte-coreano também é um problema. É difícil se defender contra mísseis balísticos, com sua velocidade de milhares de metros por segundo. A principal fonte de defesa da Coreia do Sul e dos Estados Unidos são seus escudos antimísseis. Esses dispositivos detectam quando um míssil inimigo se aproxima e, então, lançam outro míssil para interceptá-lo. Os equipamentos mais modernos tem de 60% a 80% de eficácia contra mísseis de curto e médio alcance. No caso de uma arma nuclear de longo alcance, a situação muda. A maioria desses mísseis consegue carregar ao menos quatro ogivas nucleares, que se separam ao entrar no espaço aéreo inimigo. Um bom escudo conseguiria eliminar no máximo três delas. A quarta não detonada é suficiente para aniquilar uma cidade inteira.
Mesmo se a Coreia do Norte não conseguir atacar com armas nucleares, poderia provocar uma guerra convencional na península coreana, o que seria catastrófico. O exército norte-coreano tem equipamentos obsoletos, mas conta com 1,7 milhão de soldados, devotos seguidores de Kim Jong-un. O país tem mais de 8.500 peças de artilharia voltadas contra o vizinho. A Coreia do Sul é o 26º país mais densamente povoado do mundo. Ataques aéreos e bombardeios aos seus grandes centros urbanos causariam milhares de mortes. Na primeira guerra da Coreia, nos anos 1950, 1,9 milhão de pessoas morreu. Estimativas do Exército americano preveem um mínimo de um milhão de mortos num eventual conflito.
Nem tudo ainda foi testado para conter a loucura de Kim Jong-un. A esperança é que a China, o último aliado importante da Coreia do Norte no mundo, consiga demover o país de suas intenções. É pouco provável que os chineses apoiem a mudança de um regime aliado em uma área de influência tão disputada como a península coreana. Mas os chineses também não vão se embrenhar em uma guerra para defender um regime que se tornou uma pedra no seu sapato. Há sete anos os chineses tentam convencer os norte-coreanos a promover uma abertura econômica similar a da China, sem sucesso. A impaciência com Kim Jong-un e seus delírios chegou ao ápice em fevereiro. O país votou a favor das sanções financeiras aplicadas pela ONU depois do terceiro teste nuclear do país. A única esperança que resta para reduzir a instabilidade na região é a China finalmente exercer seu poder para pressionar a Coreia do Norte.

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