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"Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cerébro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".
Juscelino Kubistchek
Onde os eixos se cruzam
O Começo do Sonho
Desde a época do Brasil Colônia já se pensava em construir uma nova capital. O Brasil tinha um imenso território e além das escaramuças de piratas e contrabando de pau-brasil, muitas nações européias foram tornando constantes os seus ataques à costa brasileira, desafiando a Coroa Portuguesa.
De nada valeram os esforços de D. João III em tentar criar um sistema de policiamento da costa do Brasil. Os ataques estrangeiros foram ficando cada vez mais freqüentes e revelavam a intenção de algumas nações em ocupar partes do território brasileiro. Basta lembrar que Salvador, a primeira capital do Brasil, sofreu diversos ataques de piratas ingleses e foi tomada pelos holandeses liderados pelo almirante Willenkens.
Os invasores só foram expulsos da capital brasileira um ano depois. Aos poucos, alguns brasileiros começaram a perceber que o Brasil estava de costas para o Brasil. Era um povo agrupado no litoral, lançando um olhar nostálgico para o continente europeu. Surgiriam então as primeiras vozes a defender a interiorização do país. Longe do litoral e dos ataques de canhões das naus inimigas, uma nova capital no interior do Brasil teria muito mais segurança.
Essa idéia foi defendida pelo Marquês de Pombal, em 1761. A Inconfidência Mineira, em 1789, já demonstrava a insatisfação dos brasileiros com a Coroa portuguesa e um anseio latente por um processo de interiorização do Brasil. Entre os planos dos inconfidentes estava a transferência da capital do Rio de Janeiro para São João Del Rei. Em 1808, o jornalista Hipólito José da Costa defendia a independência política do Brasil e fundou, no exílio em Londres, o jornal "Correio Braziliense".
Hipólito José da Costa pregava a mudança da capital para o interior do país, que ele chamava de "paraíso terreal".
A Independência do Brasil, em 1822, trouxe mais ânimo para os defensores da interiorização. Na Assembléia Constituinte de 1823, José Bonifácio defendeu a construção de uma nova capital que, segundo ele, seria uma grande chance de estimular a economia e o comércio. Essa foi a tese que José Bonifácio apresentou no documento que se intitulou "Memória sobre a necessidade e meios de edificar no interior do Brasil uma nova capital".
José Bonifácio chegou a sugerir dois nomes para a nova cidade, que ele imaginou no Planalto Central: Petrópolis e Brasília. O diplomata e historiador Francisco Adolfo de Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, também foi outro importante defensor da mudança da capital. Ele chegou a realizar estudos e também concluiu que a região do Planalto Central seria o local ideal para a nova capital.
A Assembléia Constituinte de 1891 aprovou a emenda do deputado Lauro Müller, que propunha a mudança da capital para o interior do país. Coube então ao novo governo republicano organizar uma missão de reconhecimento e demarcação da área do futuro Distrito Federal. O diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, Luís Cruls, foi encarregado de chefiar a missão.
Pedra fundamental da nova capital do Brasil, em Planaltina, no estado de Goiás
Primeiras Concretizações
Em 9 de Junho de 1892, os vinte e dois membros da missão Cruls partiram de trem, com destino a Uberaba, Minas Gerais. Eles levavam quase dez toneladas de equipamentos, como lunetas, teodolitos, sextantes, barômetros e material fotográfico para demarcar a área da futura capital no Planalto Central. A partir de Uberaba, a expedição seguiu em cavalos e mulas, passando por Catalão, Pirenopólis e Formosa. A missão formada por biólogos, botânicos, astrônomos, geólogos, médicos e militares percorreu mais de quatro mil quilômetros.
Foram sete meses de muitas caminhadas e trilhas percorridas a pé ou em mulas, descobrindo a imensidão do Planalto Central do país. Através dos relatórios da Missão Cruls, o Brasil pôde, pela primeira vez, conhecer em detalhes o clima, o solo, os recursos hídricos, minerais, a topografia, a fauna e a flora do Planalto Central. Cruls destacou a qualidade do solo pesquisado, suas possibilidades para a agricultura e fruticultura e também o clima da região. "É inegável que até hoje o desenvolvimento do Brasil tem-se sobretudo localizado na estreita zona de seu extenso litoral, salvo, porém, em alguns dos seus Estados do sul, e que uma área imensa de seu território pouco ou nada tem se beneficiado com este desenvolvimento. Existe no interior do Brasil uma zona gozando de excelente clima com riquezas naturais, que só pedem braços para serem exploradas."
Era Juscelino
Juscelino Kubitscheck chegando ao Planalto Central
No dia 2 de outubro de 1956, pousou numa pista improvisada no Planalto Central um avião da FAB trazendo o Presidente Juscelino Kubitscheck. Na comitiva presidencial estavam o Ministro da Guerra, General Lott, o Governador da Bahia, Antonio Balbino, o Ministro da Viação, Almirante Lúcio Meira, o arquiteto Oscar Niemeyer, a diretoria da Novacap e ajudantes do presidente. Eles foram recepcionados pelo Governador de Goiás, Juca Ludovico e por Bernardo Sayão. O avião aterrisou às 11:45h, numa manhã de outubro.
Olhando as fotografias daquele ensolarado dia, dá para imaginar o desafio que se apresentava aos olhos do Presidente: o vasto e imenso horizonte de um cerrado virgem, longe de tudo e de todos, sem estradas, sem energia ou sistemas de comunicação.
Juscelino, em seu livro "Por que construí Brasília", conta que "de todos os presentes, o General Lott era o que se mostrava mais desconcertado. Distanciado-se dos presentes, deixou-se ficar à beira da pista. O presidente lembra em sua obra: " Ao me aproximar dele, não se conteve e perguntou: O senhor vai mesmo construir Brasília, Presidente ?"
Juscelino escreveu no livro de ouro de Brasília: "Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cerébro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino".
A primeira visita do Presidente Juscelino Kubitschek ao sítio castanho, escolhido para sediar a futura Capital, não foi apenas simbólica. Na ocasião, foram determinados o local para construção do aeroporto de Brasília, restauração e melhoria das estradas para Goiânia e Anápolis, construção das estradas entre os canteiros de obras, dos prédios provisórios para os operários e a elaboração do projeto do Palácio da Alvorada.
Mas antes da conclusão do projeto do Alvorada, um grupo de amigos de Juscelino resolveu presentear o Presidente com uma residência provisória no Planalto.
"Catetinho", primeiro prédio de Brasília
Houve quem acreditasse em Brasília e, tão logo a notícia se espalhou, surgiria na poeira do cerrado um herói anônimo: o candango. A expressão candango, que no ínicio teve um tom pejorativo, aos poucos, passou a ser a marca dos pioneiros que se engajaram na aventura de construir Brasília.
A nova capital abria a chance de uma vida melhor. Os candangos foram chegando e erguendo barracos e casas de madeira na cidade provisória. Em dezembro de 1956 eram apenas mil habitantes; em maio de 1958 já havia mais de trinta e cinco mil.
O movimento era frenético, jipes e tratores cortando o cerrado. Um trabalho duro, sem domingo nem feriado. Israel Pinheiro organizou suas equipes de trabalho com uma disciplina de guerra. Dia e noite, sol ou chuva, Brasília não parava.
No dia 19 de setembro de 1956, foi lançado o edital para o concurso do plano piloto, que estabelecia o prêmio de um milhão de cruzeiros para o autor do projeto vencedor.
A nova capital nascia sob o signo de uma grande aventura e havia a expectativa de se encontrar um projeto que imprimisse a contemporaneidade e a ousadia esperada de Brasília.
As cidades satélites
As cidades satélites não surgiram como fruto de um plano detalhado, conforme o que regia a construção do Plano Piloto, mas pela urgência imposta pelas invasões. Em junho de 1958, nascia a primeira cidade satélite, propriamente dita: Taguatinga, construída às pressas para abrigar 50.000 pessoas, em sua maioria operários com suas famílias.
As Satélites, aos poucos, se transformariam em importantes centros econômicos. Depois de Taguatinga, Israel Pinheiro iniciou a construção de outras Satélites: Sobradinho, Paranoá e Gama.
Durante três anos, Brasília viveu um ritmo de trabalho alucinante. O Presidente Juscelino Kubitscheck vistoriava as obras pessoalmente com Israel Pinheiro.
Os partidos de oposição alegavam que Brasília não ficaria pronta no prazo e insistiam para que adiassem a transferência da Capital.
O Projeto vencedor
1º lugar - Projeto nº 22, de Lucio Costa
A Construção
Marco Zero no ano de 1957. Em primeiro plano , o local da Plataforma Rodoviária. Em segundo plano, o local onde surgirão os Ministérios e o Congresso
O Congresso Nacional. À direita, o Supremo Tribunal Federal
O Congresso e a Esplanada dos Ministérios.
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios. Ao fundo, a Plataforma Rodoviária e o edifício do Hospital de Base
A Esplanada dos Ministérios. Em primeiro plano, parte do Senado
A Catedral, os Ministérios e o Congresso.
A SQS 108 em construção. Em primeiro plano, a Igrejinha. Ao fundo, blocos da SQS 208.
As primeiras superquadras da Asa Sul. Em primeiro plano, à direita, a SQS 105.
As SQS 106, 107, 108 e 308 (esta última, ainda em construção). A quadra distante, ao fundo e à esquerda, é a SQS 114.
Asa Sul. Em 1 plano, à direita, as quadras 508 e 308 Sul. A quadra pronta, somente com casas em 2 plano, à esquerda é a 707 Sul.
Edifícios populares (chamados de edifícios JK), nas SQS 413 (blocos no centro da foto) e 412.
Quadras 400 sul, Obs a avenida L-2 Sul era então somente uma rua estreita.
Vista aérea da SQS 108 , já pronta, Ao fundo, a SQS 308 em construção.
av. central do núcleo bandeirante, na época, o Núcleo Bandeirante era chamado de Cidade Livre.
Oscar Niemeyer em frente ao Congresso Nacional ainda em construção
A Inauguração
Ao contrário das demais cidades brasileiras, que têm datas comemorativas de fundação ligadas a povoamento historicamente demarcado, Brasília foi inaugurada com data e festividades política e administrativa estabelecidas desde fins dos anos 50 do século 20. Estabeleceu-se que seria inaugurada em 21 de abril de 1960 e ninguém contestou outra data, pois Juscelino Kubitschek em seu Plano de Metas incluiu a “Meta Síntese” configurada na construção da nova Capital. Poderiam alguns imaginar que a cidade teria outra data inaugural, como a construção do Catetinho, em outubro de 1956.
Juscelino Kubitschek, no dia da inauguração de Brasília
Passava das três horas da tarde daquele 21 de abril histórico. O ano era 1960. Dia da inauguração de Brasília. Gervásio Baptista, então repórter fotográfico da Revista Manchete, estava ali com a missão de fazer a foto que seria a capa da edição especial sobre a nova capital do país.
"Presidente, presidente!", gritou Gervásio, na subida da rampa do Palácio do Planalto, que tinha acabado de ser inaugurado por Juscelino Kubitschek e o vice, João Goulart. Assustado, JK parou, olhou para trás e perguntou o que Gervásio queria.
- Eu preciso que o senhor pose para a capa da Manchete.
- Aqui?
- É. Aqui na subida - confirmou Gervásio, pedindo que João Goulart se afastasse um pouco.
- Isso. Agora levanta a cartola, presidente.
Juscelino obedeceu. Em dois, três segundos, a Rolleiflex de Gervásio registrou aquela imagem que se tornaria uma das mais badaladas de JK. Afoito, Gervásio ordenou logo em seguida que o presidente abaixasse o braço rapidamente. Outros fotógrafos estavam ali por perto. E Gervásio não queria ninguém copiando sua idéia.
20.04.1960 - Arquivo O Globo - Inauguração da nova capital federal do Brasil a cidade de Brasília. Congresso Nacional
Cerimônia de Inauguração
Cerimônia de Inauguração pelo Presidente Kubitschek
Antigas
Em 1960 e em 2004
1960
Eixo-Monumental, reparem na Torre de TV ainda em Construção
Rodoviária em 1960
Via W3 Sul, em 1960
W3 Sul, em 1961
1964
Rodoviária em 1963
1968
1968
1970
1973
Ceilandia em 1972
1976-Cartão Postal. Rodoviária do Plano Piloto e túnel do Eixo Rodoviário, apelidado pela população de Buraco do Tatu.
1978
Cena do filme "Bye Bye Brasil", de 1979.
Vista da Torre de TV em 1971
Centro de Taguatinga em 1979
1970
Setor de Rádio Sul visto da Torre de TV, por volta de 1968-1969. À esquerda, os prédios da 302 Sul estão sendo construídos. Compare com esta foto de 1997.
em 1997
Zona Central Norte vista da Torre de TV, por volta de 1968-1969. O local do Conjunto Nacional era então apenas um buraco.
Zona Central Sul vista da Torre de TV, por volta de 1968-1969.
A Asa Sul em 1986. Compare com esta foto de 2006.
em 2006, não mudou muito.
Conjunto Nacional em 1988. Primeiro shopping center de Brasília e o segundo shopping a ser construído no Brasil, inaugurado em 1971, sendo um dos mais tradicionais da cidade. Localizado próximo a Rodoviária, na Zona Central de Brasília, é o maior centro comercial do Distrito Federal e está entre os 30 maiores do Brasil, possuindo 320 lojas e 118.100 m² construídos.
SCN(Setor Comercial Norte) em 1987. 27 anos após a inauguração da cidade, pouco havia sido feito até então.
Catedral em 1988. Entre a sua inauguração (em 1970) e 1988 a Catedral era assim, sem pintura e com vitrais incolores.
1990
Os Sem-Terra passando pelo Eixão Sul, durante a manifestação de 17/04/97
A tradicional iluminação de Natal na Esplanada dos Ministérios. Em primeiro plano, a Catedral. Ao fundo, o Congresso. Ano entre 1992 e 1994.
Eles fizeram Brasília
Missão Cruls - 1892
Israel Pinheiro
JK e Bernardo Sayão
Juscelino Kubitschek
Lúcio Costa
Niemeyer, Israel Pinheiro, Lúcio Costa e JK
Oscar Niemeyer
Os Candangos
Como Brasília poderia ter sido...
Projeto nº2 (classificado em 2º lugar)
Autores: Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves.
Previa uma cidade governamental com desenvolvimento controlado (máximo de 768.000 hab.) e satélites urbanos cujo crescimento seria de flexibilidade ilimitada. Foi suposto que em 2050 a cidade teria 673.000 habitantes.
Projeto nº17 (classificado em 3º lugar)
Autores: Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar e L.R. Carvalho Franco.
Não previa satélites. A população máxima prevista era a mesma do edital do concurso (500.000 hab.).
Edifícios residenciais gigantescos, com 16.000 residentes cada com. Seis setores de 3 superblocos, com uma população total, apenas nestes 18 edifícios, de 288.000 pessoas.
Cada bloco teria centenas de metros de altura, e utilizaria 60.000 toneladas de aço! Veja um dos superblocos em maior detalhe.
Uma cidade para se andar a pé! Como a maioria da população seria concentrada num raio de pouco mais de 1 km, previa-se que o acesso dos residentes dos superblocos à maioria dos edifícios públicos seria feita a pé. "O uso da marcha a pé em maior escala que nas outras cidades traria uma multiplicação dos contatos entre a população, unindo o indivíduo à sua comunidade."
Projeto nº8 (classificado também em 3º lugar)
Autores: arquitetos M. M. M. Roberto.
Sete unidades urbanas com 72.000 pessoas cada uma, podendo se expandir para 10 ou 14 unidades. Cada unidade teria o formato de um círculo com 2.400 metros de diâmetro, e seria como "uma cidade completa".
Também aqui se andaria a pé! À semelhança do Projeto nº 17, previa-se que os habitantes se locomoveriam quase sempre a pé, pois morariam próximo ao local de trabalho. Achou-se que haveria pouca necessidade de veículos particulares ou coletivos.
A população ideal seria de 630.000 habitantes, e a máxima de 1.260.000. Os 630.000 habitantes seriam assim distribuídos: 504.000 na "área da capital", 104.000 em "distritos rurais" em 22.000 em "estabelecimentos isolados".
Além das unidades urbanas circulares, haveria um "Parque Federal"
Vídeo
Brasília em 1967: Plano Piloto e Cidades-Satélites
FONTES
http://www.geocities.com/augusto_areal/bsb_port.htm
http://zamorim.com/
http://www.arpdf.df.gov.br/
1 comentários:
Write comentáriosÈ uma pena,os brasilienses,serem tão pouco interessados,na historia de BSB.
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