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Ruy Mesquita, diretor do "Estadão", morre aos 88 anos:
Ruy Mesquita, em evento em 2005. Vítima de paralisia infantil na perna esquerda, ele se locomovia com a ajuda de uma bengala (Foto: Robson Fernandes/AE)
"Dr. Ruy", como era conhecido no Estadão, era neto de Júlio de Mesquita, que fundou o jornal em 1875. Começou a graduação na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Acabou abandonando o curso e terminou os estudos na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), também na USP. Em 1964, Ruy Mesquita reuniu-se com militares antes do golpe de 1964. Apoiou o movimento no início, em nome da defesa da democracia, mas logo passou a criticar a ditadura, após o cancelamento das eleições. Os três lideraram a resistência à censura prévia. Substituía as reportagens censuradas do Estadão por poemas e receitas.
Após a morte de seu irmão mais velho, Julio de Mesquita Neto, em 1996, Dr. Ruy assumiu a direção do Estadão. Antes, fora diretor-responsável do Jornal da Tarde – extinto em 2012 – por 30 anos. Há sete anos, quando houve uma reestruturação da empresa e a família Mesquita se afastou das funções executivas, ocupava o cargo de diretor de opinião. Ficou responsável pelos editoriais do Estadão, naquela que é considerada por muitos uma das melhores páginas da imprensa brasileira. Certa vez o ex-diretor de redação Sandro Vaia definiu os editoriais da página 3: “respeitados e temidos até por quem os odeia”. (Vaia contou que, demitido em 2006, depois de 40 anos de trabalho na empresa, o Dr. Ruy, com quem lidava diariamente, não falou com ele, apenas deixou uma mensagem com “palavras simpáticas” na caixa postal do celular.)
Dr. Ruy se reunia diariamente com aqueles que escreviam as "Notas & Informações", que definiam as posições do jornal. Manteve essa rotina de trabalho até a véspera da internação. Remendava à mão os editoriais, com uma caligrafia que poucos conseguiam entender. Ele via com ceticismo o avanço das novas mídias, a discussão em torno do futuro das publicações impressas e o que ele considerava predomínio do marketing sobre a qualidade jornalística. Para descrever o fenômeno, criara até um neologismo: “murdoquização”, uma referência ao magnata australiano Rupert Murdoch, principal acionista do grupo de mídia News Corp. Murdoch comprou em 2007 o americano Wall Street Journal da centenária família Bancroft, apesar dos protestos de quem considerava que ele conspurcaria a pureza editorial do jornal.
De hábitos reclusos, dividia seu tempo entre o jornal e a casa, onde se dedicava a leituras. Deixa a mulher, Laura Maria Sampaio Lara Mesquita, os filhos Ruy, Fernão, Rodrigo e João, 12 netos e um bisneto.