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Extraído da Veja
Brasileiro leva rede de escolas da periferia para o mundo
Criado no subúrbio do Rio, Flávio Augusto fundou o Grupo Ometz no início dos anos 90. Hoje, tem escolas em quatro países e se prepara para chegar à China
Raquel Grisotto
Flávio Augusto, dono do grupo Ometz, que inclui a rede de idiomas Wise Up (Gabriel Rinaldi)
Ainda faltam dois meses para que a primeira escola Wise Up da China abra suas portas. Mas o empreendedor Flavio Augusto, de 40 anos, já está contando os dias para a inauguração em Pequim, prevista para 15 de novembro. Augusto é dono do Grupo Ometz (veja números da empresa), que deve faturar 155,5 milhões de reais neste ano com as marcas Wise Up, You Move e Go Getter – todas especializadas no ensino do inglês. “A meta, na China, é chegar a 2 000 escolas em cinco anos”, diz Augusto, que conta com a ajuda de um parceiro local para vender as franquias no país. “Será um grande avanço na minha trajetória”, comemora.
Fincar a bandeira de seu negócio no outro lado do mundo representará uma conquista e tanto ao empreendedor que começou vendendo cursos de inglês em uma pequena escola do centro do Rio de Janeiro, aos 19 anos. “Queira casar e precisava juntar algum dinheiro”, recorda o empresário. Filho de militar e de uma professora de escola pública, Augusto foi criado em Jabour, na periferia carioca. Para poder trabalhar, trancou a faculdade de ciência da computação meses depois de iniciar o curso. Em 1995, quando chegou aos 23 anos, decidiu abrir a própria escola, usando dinheiro do cheque especial. “Foi uma loucura”, diz ele. “Mas acabou dando certo.” Em um mês, Augusto já tinha conquistado muitos alunos.
A experiência adquirida como vendedor havia permitido a Augusto entender qual a melhor maneira de atrair clientes para sua escola – e isso tem mostrado fundamental para expansão do grupo até agora. “Aprender inglês é chato”, admite. “As pessoas só se convencem da importância do curso quando mostramos a ela o impacto positivo que isso pode ter em suas vidas.”
Nicho de mercado – Desde o início, enquanto os concorrentes faziam ações direcionadas a crianças e adolescentes, a Wise Up mirou em outra direção: o profissional adulto. A escolha se mostrou certeira. “Em vez de prometer fluência com aulas que podem se estender por quase uma década, vendemos um curso de 18 meses para quem quer aprender a se comunicar rapidamente”, explica Augusto.
Amparada por uma estratégia de marketing agressiva – que inclui ações de telemarketing e campanhas publicitárias com atores famosos –, a empresa deslanchou. Hoje, são quase 500 unidades no Brasil e escolas na Argentina, Colômbia e Estados Unidos – onde o foco é ensinar inglês à comunidade latina residente no país. “Atrelar o produto à perspectiva de emprego e de promoções na carreira foi uma estratégia muito acertada”, avalia José Carlos Semenzato, dono da SMZTO, empresa que investe em negócios com potencial de crescer por meio de franquias. “Por muito tempo, esse também foi meu argumento de vendas – dizer aos alunos que a vida deles poderia melhorar se aprendessem o que eu estava ensinado”, resume o especialista. Semenzato é fundador da Microlins, rede de ensino de informática vendida em 2010 ao Grupo Multi (controlador das marcas Wizard e Skill).
Expansão dos negócios – Os últimos anos têm sido particularmente positivos para os negócios de Augusto. “O avanço da economia e o aumento do poder aquisitivo da população motivam as pessoas a estudar”, afirma. Para aproveitar todas as oportunidades, o empresário lançou duas novas marcas: a You Move, destinada a atender a Classe C, e a Go Getter, que ensina inglês “in company” (dentro de empresas) e que tem como clientes a Toyota e a Warner Bros.
No Brasil, pouco mais de 5% da população fala inglês, segundo levantamento do British Council, órgão do governo britânico. Em nível global, estima-se que, nos próximos anos, perto de 2 bilhões de pessoas estudem inglês. “Nossas perspectivas são excelentes”, comemora Augusto.
Hoje, seu principal desafio tem sido afastar-se aos poucos do dia a dia das escolas. Ele ainda comanda toda a estratégia de crescimento do grupo, mas vem dando cada vez mais autonomia a seus executivos. “Preciso descentralizar o comando para deixar a empresa cada vez mais preparada para expansão”, diz Augusto. Trata-se de uma tarefa difícil para empreendedores. Por isso mesmo, Augusto mudou-se em 2009 com os filhos e a mulher – a mesma que o motivou a vender os cursos na juventude – para Orlando, nos Estados Unidos. “Dessa forma, consigo deixar os executivos mais à vontade para cuidar de suas funções”, diz.
Atualmente, ele também dedica uma hora diária para produzir textos, vídeos e artigos sobre empreendedorismo e motivação. Tem mais de mais de 500 000 seguidores nas redes sociais. “Vim da periferia e comecei do zero”, diz Augusto. “Sei da importância desse tipo de incentivo para as pessoas.”